quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O que aprendi nos últimos 30 anos..


A preguiça talvez seja o elemento mais danoso ao progresso da fé.

Num tempo onde tudo é instantâneo, onde o conforto e a comodidade são buscados como forma de diferenciação, criou-se o conceito da espiritualidade instantânea, aquela que você não precisa fazer nada e, ainda assim, ela se instala em você, quase
como um “vírus”.

Para tal, basta que se frequente algum tipo de reunião, programa ou culto, pois assim o processo se desdobra sem nem mesmo o sujeito perceber.

Alguns anos nesta rotina do sagrado e as pessoas já imaginam que cresceram espiritualmente, que aprenderam verdades das Escrituras e fortaleceram seu caráter através da oração e da prática da sã doutrina.

Tudo engano! Para se ter uma ideia, a grande maioria de crentes que conheço não sabe nada de bíblia e, sequer, leu o Novo Testamento. Isso inclui “pastores” e líderes! Aliás, nunca vi algo tão chocante quanto o despreparo dos “pastores” em nosso tempo.

É triste, mas o sujeito nem história conhece. Os conceitos que se formaram na mente e no coração desta gente é fruto daquilo que eles, apenas, ouviram falar. Ouviram na igreja, no culto, no programa de TV, na rádio, num texto que leram, e tudo, absolutamente tudo, é ingerido como verdade.

Sim, eles não possuem “filtros”, não sabem o que é exegese e, muito menos, hermenêutica.

Assumem que tudo o que escutam ou leem, sobretudo se vier de algum “figurão” da igreja, é certo, verdadeiro e tem a ver com o Evangelho de Jesus. Falácia! Foi assim que se estabeleceu entre nós doutrinas quais: cura interior, maldição hereditária, autoridade espiritual, prosperidade, e outras “especiarias” da “igreja” em nossos dias...

Olhe os jovens. O que eles desejam? Querem programas de divertimento: rapel, luau, trilha, rave, qualquer coisa que seja ligada ao entretenimento. Ofereça a eles um programa para estudar os princípios elementares da fé, de Hebreus 6, e você verá quantos vão aparecer...

Acredite, a esmagadora maioria de cristãos que conheço não consegue manter 5 minutos de conversa sobre a fé com alguém que tenha um mínimo de cultura e conhecimento de história da civilização. Com 3 perguntas eles ficarão embaralhados, usando chavões e conceitos "pré-mastigados” para defender o que chamam de “sua religião”.

Se o interlocutor tiver algum conhecimento de psicologia, sociologia, filosofia e teologia, o estrago será ainda maior. O que as pessoas entenderam por “revelação” nada mais é do que teoremas simplistas ou doutrinas sistematizadas, a grande maioria vinda da idade moderna, a partir do século XVI, mas que calcificaram-se tendo como ponto de chegada o século XIX.

De lá para cá, parece que tudo parou. Os ensinos e práticas da igreja apenas repetem o que já se fazia neste período.

Não há nada de novo debaixo do sol! Talvez Deus tenha parado também.

Ninguém compreende que toda teologia é temporal e pessoal, ou seja, precisamos de teologia para hoje!

O problema é que o homem do século XXI não é aquele ser sem acesso a cultura e ao conhecimento da idade média.

Lá se podia usar a religião para manipular as pessoas. Hoje, todavia, ou você arranja o que falar e como falar, ou vai ser “engolido”, chamado de idiota, de fanático, de retrógrado, de inculto. E... talvez... você seja... admita... É que não adianta mais dizer: “Jesus é a solução!”, se você não sabe, nem mesmo, quais são os problemas.

Se eu pudesse hoje aconselhar alguém que está tendo uma experiência com Deus e deseja conhecer a Jesus e ao Evangelho, diria para ele ler a bíblia com zelo, sobretudo o N.T..

Ensinaria a fazer isso tendo como auxílio os demais saberes (da psicologia, da sociologia, da filosofia, da antropologia), pois todos eles podem auxiliar na tarefa de interpretação dos textos e contextualização para nosso tempo, nosso cotidiano.

Sim, eu estimularia essa pessoa a ler os profetas, Jeremias, Isaías, Daniel, mas também a ler os poetas, Drummond, Quintana, Saramago... Diria a ela que lesse a bíblia e o Valor Econômico, que lesse Romanos, de Paulo, A República, de Platão, e Dom Quixote, de Cervantes. Eu faria isso, com toda certeza. Aliás, para alguns, eu estou fazendo...

Por Carlos F. S. Moreira,
Formado em Teologia pelo Seminário Episcopal Evangélico do Brasil e em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Escritor, compositor, músico e conferencista, é reitor da Igreja Episcopal Nova Vida e trabalha como editor do Blog e da Revista Eletrônica Genizah. É casado com Fabiana e pai de Gabriela.
http://anovacristandade.blogspot.com,

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