sábado, 9 de novembro de 2013

Pornô evangélico pode?



Discutir pornografia pode ser um elefante branco para muita gente. Entre evangélicos, então, o assunto periga virar uma reunião de elefantinhos com protetor solar fator 60.
O reverendo Augustus Nicodemus Lopes, ex-chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie (2003-2013), cargo máximo de uma das instituições mais tradicionais do país, jogou esse tabu no ventilador, em texto publicado hoje na internet.
Sobre o cristão que consome “a prostituição, a perversão sexual, o adultério, a sodomia, o lesbianismo, e outras práticas sexuais que são objeto da pornografia”, eis seu veredicto: culpado.

Augustus Nicodemus Lopes, reverendo da Igreja Presbiteriana do Brasil (reprodução Facebook)
Em 2010, outro texto de Nicodemus “viralizou” na rede. Então à frente do Mackenzie, ele publicou no site da universidade o “Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia” (crítico ao projeto de lei 122, que criminaliza a prática).
Saldo: centenas foram às portas do Mackenzie protestar contra frases como “os cristãos se guiam pelos referenciais morais da Bíblia e não pelas mudanças de valores que ocorrem em todas as culturas”.

Protesto em frente ao Mackenzie contra o então chanceler Augustus Nicodemus (Edson Silva/Folhapress)
A nova investida, desta vez contra o pornô, foi feita numa autoentrevista publicada em seu blog, O Tempora, O Mores. “Ninguém nunca me entrevistou sobre este assunto”, explica.
O reverendo se faz perguntas como “por que as igrejas não falam mais deste assunto, já que certamente existem muitos membros viciados em pornografia?”.
Trailer da resposta: “Alguns líderes receiam despertar o interesse das pessoas pela pornografia se começarem a falar sobre ela”.
Também dispara contra a masturbação, hábito “profundamente ligado à pornografia”. “Dificilmente alguém se masturbaria pensando nas cataratas no Niágara…”, afinal.
Por e-mail, dos Estados Unidos, ele me concedeu a tal entrevista que ninguém havia pedido antes.
Por que escrever sobre o que nunca lhe perguntaram: pornografia?
Sei que o consumo de pornografia entre evangélicos existe numa proporção alarmante. Há muitas publicações que mencionam o fato, além da minha própria percepção, lidando com pessoas com problemas nesta área nos meus mais de 30 anos de pastorado. E infelizmente pouco se fala sobre isto nas igrejas evangélicas, históricas e pentecostais.
Qual a perspectiva bíblica sobre sexualidade?
De acordo com ela, Deus nos criou homem e mulher. Portanto, sexo é uma coisa boa, abençoada e que deveria ser desfrutada dentro dos limites estabelecidos pelo próprio Deus, e que estão igualmente revelados na Bíblia. Destes, o mais importante: deve ser desfrutado no ambiente do casamento, onde existe compromisso e responsabilidade.
Você diz que “o casamento não transforma o quarto de casal em quarto de motel”. Exemplos?  
Num quarto de motel geralmente se faz de tudo –foi isso que quis dizer. Todavia, mesmo entre casados há limites. Sexo a três ou troca de casais, por exemplo, se constituem em adultério mesmo que tenha o consentimento de todos envolvidos.
Já fiz uma reportagem sobre produtos eróticos para evangélicas. Coisas como o kit “50 Tons de Prazer” e calcinhas comestíveis (que maridos degustam com uísque). Acha válido o uso de apetrechos sexuais?
Questão interessante. Eu responderia de maneira genérica. Não envolvendo pornografia, esquemas adulterinos ou embriaguês, poderiam ser usados.
MERCADO DO SEXO

Sobre a referida reportagem da última pergunta: eu e o repórter Ricardo Senra desvendamos um pouco do mercado gospel do sexo, para a revista “sãopaulo”.
Uma das entrevistadas foi Mônica Alves, 45, ex-revendedora de produtos da Avon e que hoje bate perna com uma bolsa de 6 kg cheia de itens sexuais. Vende, por exemplo, a “camisolinha da Nicole Bahls”, um modelo semitransparente com estampa de oncinha.

Fiel da Igreja Mundial do Poder de Deus analisa a ‘camisolinha da Nicole Bahls’ (Petala Lopes/Folhapress)
Fiel da igreja Renascer, Mônica ouve da mãe reprimendas como “vibrador dá câncer no útero”. Não liga. Faz o teste de qualidade de seus produtos com o marido, 12 anos mais moço, que ganha café da manhã (cappuccino e cuscuz com manteiga) na cama e “festinha à noite” todo dia.
E sabe o que diria caso o líder da sua igreja descobrisse o ofício: “Pastor, desculpa, preciso ganhar meu dinheiro”.
Já o repórter Senra, em papo com uma atendente de sexshop, descobriu uma fiel (cliente das mais assíduas) que repetia sempre o mesmo ritual: escondia-se atrás de uma árvore, ligava para a loja, esperava a porta abrir e entrava correndo, na surdina.
MOTOCICLETA, BÍBLIA, B.B KING
Hoje, Nicodemus é professor visitante do Westminster Theological Seminary, na Filadélfia. Pesquisa para seu projeto de pós-doutorado: um livro sobre os modernos “apóstolos” pentecostais.
Mais sobre o pastor presbiteriano está na internet. Assim ele se define: “Paraibano, casado com Minka, pai de Hendrika, Samuel, David e Anna, mestre e doutor em interpretação bíblica (África do Sul, Estados Unidos e Holanda)”. Interesses: “Bíblia, teologia, off-road e motocicletas”. Músicas favoritas: “Eric Clapton, B.B. King e toda aquela geração de feras do blues”.

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