Luis A R Branco
Há
um pouco mais de um ano publiquei no jornal da Igreja Evangélica
Baptista de Cascais um artigo sobre o suicídio em Portugal, e diante da
presente gravidade do assunto na sociedade portuguesa, resolvi escrever
um pouco mais sobre este tema. Em 15 de Março de 2010 o jornal Público
publicou a seguinte matéria: “Suicídio é a causa de morte não-natural
mais comum no país”[1] A matéria diz que morrem mais pessoas por
suicídio em Portugal do que por acidentes nas estradas. Esta notícia é
preocupante, pois mostra o real estado da saúde psicológica da
sociedade, e também como as pessoas estão mal preparadas para enfrentar
adversidade e problemas da vida. O secretário de Estado Adjunto e da
Saúde, Fernando Leal da Costa, ao comentar a problemática do suicídio em
Portugal, admitiu recentemente em declarações aos jornalistas, que, “em
todas as circunstâncias de maior crise económica ou financeira, com o
aumento do desemprego, aumento de situações de maior dificuldade social,
individual e familiar, é possível e imaginável que isso aconteça”[2]
O
suicídio não é uma negativa a vida, não é um “não” à beleza da
existência do ser, mas um “basta” daquele que já se acha sem forças para
lutar contra os problemas e adversidade que surgem em sua vida. O
suicídio é para este a última e a única forma de escape e alívio
disponível. O suicídio é uma denuncia grave quanto ao nosso sistema
social doentio, que oferece pouquíssimas oportunidades para os fracos,
pobres, doentes, problemáticos, endividados, solitários, entre outros.
Nossa sociedade tem a tendência a fechar portas e a negar socorro aos
que buscam alívio e solução para a sua dor. Quem não ficou chocado neste
país com a notícia do professor que saltou da Ponte 25 de Abril no dia
09 de Fevereiro de 2010? Este buscou socorro, mas foi mal entendido,
humilhado e considerado um caso comum na psicopatologia devido a sua
personalidade.
Os
problemas sociais e psicológicos, aliados a ausência da fé em Deus
tendem a agravar ainda mais a possibilidade do suicídio. Miguel Real ao
prefaciar a reedição da obra do intelectual português Manuel Laranjeira,
“Pessimismo Nacional”, assim descreveu a fé do autor, que cometeu
suicídio no dia 22 de Fevereiro de 1912: “Deus em Manuel Laranjeira,
como em Nietzsche, simboliza apenas o Nada do Nada, é um Deus-Aranha que
socialmente tudo vê e tudo pode, controlando rebeldias e heresias por
via da afirmação da vontade dos seus crentes (a Igreja), eterma
consolação da fraqueza dos povos. Nesta filosofia céptica, composta de
fatalidade e irracionalidade, só a Morte se pode apresentar com a sua
face redentora de desesperada/serena solução final”[3]. Infelizmente o
suicídio em Portugal tem estreitas ligações com figuras de renome como
Júlio Cezar Machado, Silva Porto, Camilo Castelo Branco, Antero de
Quental, Soares dos Reis, Florbela Espanca, Mouzinho de Alburquerque,
etc.
A
Bíblia também tem seus casos de suicídio, casos estes que merecem nossa
atenção, temos inclusive um profeta que desejou a sua morte, pois a
considerou melhor que a vida (Jonas 4:3). O sentido original deste texto
é daquela da pessoa que coloca a vida e a morte na balança e faz a
opção pela que lhe vai custar menos. Foi preciso que Deus interviesse na
vida deste profeta e o ajudasse a ver a beleza da vida. É preciso
mostrar para as pessoas que há beleza também no sofrimento, precisamos
mostrar o valor da bravura e que lutar é sempre menos prejudicial do que
o suicídio, principalmente para aqueles que nos amam e a quem amamos.
Acredito
que algumas pessoas em determinados momento das suas vidas considerarão
o suicídio como uma saída viável, se isto lhe ocorre, não lute sozinho,
busque ajuda. Não despreze os sinais dados por seus amigos e entes
queridos quando demonstram inclinação para esta prática, encoraje-os a
buscar auxílio. A igreja, o pastor, um psicólogo, um amigo, pode
ajudá-lo a ver cores na vida e até na adversidade e problemas que você
nunca tinha reparado. E acima de tudo, precisamos clamar por uma
sociedade mais justa, mais alicerçada em valores saudáveis e que promova
a vida e a oportunidade para todos.
Referências:
[1]
Andrea Cunha Freitas, “Sociedade: Suicídio é a Causa de Morte
Não-Natural Mais Comum No País”, Público, 15 de Março de 2010.
http://www.publico.pt/Sociedade/suicidio-e-a-causa-de-morte-naonatural-mais-comum-no-pais_1427087
(02 de Outubro de 2012).
[2]
Instituto Nacional de Estatística, “Sociedade: Suicídios Aumentam Em
Portugal,” Jornal Digital, 09 de Abril de 2012.
http://jornaldigital.com/noticias.php?noticia=30042 (02 de Outubro de
2012).
[3] Manuel Laranjeira, Pessimismo Nacional (Guimarães: Opera Omnia, 2012), pág. 18-19.
Luis A R Branco é colaborador do Genizah
Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2013/10/suicidio.html#ixzz2jO3Em2Ip
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