Luis A R Branco
Luis A R Branco é colaborador do Genizah
[1] MILLER, D. L. Discipling Nations: The Power of Truth to Transform Cultures. Seattle: YWAM Publishing, 1999.
Há muito tempo
que existe por ai o falso evangelho chamado de “teologia da
prosperidade” ou “teologia da fé”, sempre denunciada por aqueles que
verdadeiramente pregam o evangelho da verdade. No entanto, hoje não se
trata apenas de falsos mestres e falsos pregadores do evangelho, mas de
enriquecimento ilícito de pastores e líderes cristãos que deveriam ser
exemplo de vida modesta e equilibrada para igreja e para o mundo.
O pastor deve
viver uma vida simples. Essa simplicidade deve se estender a todas as
áreas de sua vida, pois Jesus também viveu de forma simples. Todos os
apóstolos e profetas eram homens simples. Os poucos homens ricos que
aparecem nas Escrituras Sagradas eram homens sem vocação sacerdotal,
foram patriarcas, foram reis, também usados por Deus. Mas a grande
maioria dos homens dedicados ao que podemos chamar de ―ministério de
tempo integral era de homens simples. O estilo de vida empresarial que
domina o pensamento das igrejas dos nossos dias praticamente
ridicularizou a simplicidade do ministério cristão, fazendo com que
muitos pastores busquem uma vida mais sofisticada. Não creio que seja o
propósito de Deus que o pastor de uma igreja local seja rico e que viva
um estilo de vida muito superior ao da maioria dos membros da sua igreja
e com salário exorbitante.
Em certa ocasião,
um escriba queria seguir a Jesus e foi informado por ele que: ― “As
raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem
não tem onde reclinar a cabeça”(Mt 8.20). Nos tempo de Jesus, os
escribas ou doutores da lei eram homens de grande importância. No
Sinédrio, serviam como juristas e intérpretes da Lei Mosaica no que diz
respeito aos assuntos governamentais, administrativos e jurídicos. Na
sinagoga, eram os intérpretes das Escrituras Sagradas ajudando o povo a
fazer aplicações práticas dos ensinos da lei para cotidiano. Eles também
eram os professores que ensinavam o povo a ler e escrever. Embora não
fizessem parte da alta sociedade, gozavam de privilégios superiores aos
da maioria do povo. A resposta de Jesus a esse escriba é, portanto, um
esclarecimento de que a liderança espiritual proposta por Jesus e
vivenciada por seus apóstolos era muito simples se comparada com o
estilo de vida que ele estava acostumado. A história nos deixa a
indicação de que esse escriba desistiu de seus planos após as palavras
de Jesus. Será que seguiríamos a Cristo, como ministros do seu santo
evangelho, se nós ouvíssemos dele tais palavras? Mas elas ainda ressoam
em alto e bom tom para aqueles que se dizem chamados para o pastorado.
É certo que hoje a
nossa sociedade abriu oportunidades maiores para aqueles que chamamos
bi-vocacionais, ou seja, pessoas que exercem o mistério e uma profissão
secular. Trata-se, muitas vezes, de homens zelosos pela causa de Deus e
que, quando assumiram o ministério, já eram ricos ou tinham uma vida
muito boa. Nesse caso, acredito que o um princípio cristão histórico
referente à economia deve ser observado. João Wesley ensinou aos homens
dos seus dias: ― “Trabalhe o mais duro que você pode, economize o tanto
quanto você pode; doe o tanto quanto você pode” [1]. Tendo em vista que
todo trabalho honesto e decente é sagrado para Deus, não vejo razão para
que um pastor bi-vocacional deixe de ganhar dinheiro. Neste caso, o
princípio de ― “trabalhar o mais duro que você pode”, certamente
continuará a trazer benefícios financeiros. O que fazer com esse
benefício financeiro? A segunda orientação de Wesley é ― “economize o
tanto quanto você pode”. Nos nossos dias, o desperdício de recursos, por
meio do consumismo desenfreado, é ofensa àqueles que nada têm e que
muitas vezes lutam para ter o que comer. Não seria ético para esses
pastores bi-vocacionais viverem em um mundo de fartura e consumismo e,
ao mesmo tempo, subir nos púlpitos para ministrar a palavra de Deus. O
que fazer então com o que foi economizado? Wesley disse: ― “Doe o tanto
quanto você pode”.
Acredito que a
ética do pastorado deve motivar todos quantos possuem além do que
precisam para uma vida decente, para contribuir para o auxílio do
necessitado e para o avanço da causa de Deus. Esses três princípios, na
realidade, valem para todos quantos querem glorificar a Deus com suas
vidas. Se de alguma forma temos além do que precisamos, devemos doar.
Agora,
simplesmente, é inaceitável que pastores venham a enriquecer à custa da
igreja e do ministério. Alguns justificam suas contas bancárias
substancialmente abençoadas ao fato de serem dignos de receber seus
salários equivalentes aos de grandes industriais, diretores executivos
(CEO) de grandes incorporações, etc. Quando a Bíblia diz: ― “[...] Digno
é o trabalhador do seu salário […]”(Lc 10.7), a ideia não é comparar o
salário do pastor com a de outros trabalhadores em outros setores da
sociedade. O texto soa melhor como: digno é o trabalhador do seu
alimento (Mt 10:10). A ideia original do texto é aquela do suficiente
para a provisão decente da vida. Viver uma vida pastoral lucrativa
financeiramente é diferente do ideal de Deus para o ministério e
portanto é um enriquecimento ilícito para com a ética ministerial.
Estes pastores
devem ser denunciados por suas posturas, o rebanho de Deus deve ser
alertado para se afastarem deles, pois não se assemelham em nada com o
Jesus de Nazaré. Cuidado, pois estes, são cuidadosos no uso das palavras
e enganam a muitos. O Ap. Paulo nos alertou através de sua segunda
carta a Timóteo que haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina;
pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar
ouvidos à verdade, entregando- se às fábulas (2 ™ 4:3-5).
A estes pastores
enriquecidos ilícitamente o Senhor os diz pela sua palavra: “[…] Ai dos
pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os
pastores as ovelhas? Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o
cevado; mas não apascentais as ovelhas. […] Assim diz o SENHOR Deus: Eis
que eu estou contra os pastores e deles demandarei as minhas ovelhas;
porei termo no seu pastoreio, e não se apascentarão mais a si mesmos;
livrarei as minhas ovelhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de
pasto.” (Ez 34:2-3,10).
Luis A R Branco é colaborador do Genizah
[1] MILLER, D. L. Discipling Nations: The Power of Truth to Transform Cultures. Seattle: YWAM Publishing, 1999.
Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2013/11/enriquecimento-ilicito.html#ixzz2kwaP5lWY
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