Dentro
dos arraiais evangélicos ocorre um fenômeno que podemos nomear como “teologia
popular de papagaio”. Na formação deste termo as palavras “teologia popular” são
utilizadas com a intenção pejorativa, transmitindo a ideia de “reflexão
superficial sobre Deus”. O adjetivo “papagaio” transmite a ideia de um
indivíduo que apenas repete aquilo que lê, ou seja, estes cristãos não têm
capacidade intelectual e muito menos espiritual (dada pelo Espírito Santo) para
compreender o texto, são apenas repetidores das Escrituras.
Não
podemos negar que a exposição através da repetição possa trazer algum proveito,
mesmo que seja mínimo, o maior problema é quando esta repetição trata de assuntos
complexos, logo, a eficácia deste método torna-se nula.
A possibilidade de o repetidor cometer equívocos e até mesmo disseminar heresia se torna inevitável.
Na
maioria das vezes, o ponto de vista do leitor é colocado acima do significado do
texto, este tipo de leitura chama-se eisegese - consiste em injetar no texto um
significado que o interprete, quer esteja ali, quer não esteja, ao invés de
extrair o real significado dele.
Dentro
das redes sociais a eisegese é algo comum, tanto que esta prática tem criado
diversas doutrinas paralelas e extremamente equivocadas. Estas são
sistematizações superficiais, que acabam se tornando populares. Este tipo de
leitura popular não se multiplica apenas dentro do ambiente virtual, mas acaba sendo incorporada na igreja.
Nestas
últimas semanas um dos textos que tem sido distorcido pelos internautas é de
autoria Paulina, encontra-se em I Coríntios 1:10;13.
“Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões
entre vós; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer. Pois a
respeito de vós, irmãos meus, fui informado pelos da família de Cloé que há
contendas entre vós.
Quero dizer com isto, que cada um
de vós diz: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de
Cristo. Será que Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vós? Ou
fostes vós batizados em nome de Paulo?”
Os
internautas, adeptos a teologia popular de papagaio, repetem exaustivamente
este texto afirmando que Paulo neste trecho censura todo tipo de debate teológico.
Eles afirmam que o debate teológico gera dissensões e no momento que discutimos teologia somos tendenciosos e sempre vamos defender a opinião pessoal, colocando a figura humana que sistematizou aquela doutrina em primeiro lugar.
Mas
será que o texto prescreve este tipo de doutrina?
A
resposta encontra-se abaixo, pegue sua bíblia, leia o texto completo e tire
suas conclusões.
Ao analisarmos um texto das Escrituras é necessário delimitar onde começa o assunto, e claro, onde termina. O apóstolo Paulo começa tratar sobre as dissensões causadas pelo exclusivismo de cada grupo, em relação aos seus líderes no capítulo 1 verso 10 e conclui sua admoestação no capítulo 4 verso 2. Sugiro que você leia este texto para melhor compreensão da explicação.
Dentro
da igreja em Corinto havia uma divisão, uns eram do partido de Paulo, outros
eram do partido de Apolo, outros do partido de Cefas e por último alguns
defendiam o partido de Cristo.
Paulo que anteriormente era conhecido como Saulo, era um judeu do partido farisaico que se dedicava à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus na região de Jerusalém. De acordo com o relato de Atos capítulo 9, durante uma viagem entre Jerusalém e Damasco, numa missão para que, encontrando fiéis por lá, os levasse presos a Jerusalém, Saulo teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz, ficou cego, mas recuperou a visão após três dias, esta experiência com Cristo trouxe-lhe além da mudança de nome - agora ele seria chamado Paulo - a sua conversão ao cristianismo. Começou então a pregação Paulina da mensagem de Cristo que lhe aparecera.
Apolo
era um judeu da cidade de Alexandria, seu nome é uma forma abreviada de
Apolônio. Apolo chegou a Éfeso cerca de 52 D.C., durante a viagem confirmatória
de Paulo entre as igrejas da Galácia e da Frigia. Apolo já tinha ouvido falar
em Jesus Cristo, e era discípulo do Senhor; no entanto, ainda não estava bem
informado sobre a mensagem cristã em sua inteireza. Seu dote natural era a eloquência,
além de um conhecimento profundo das Escrituras do Antigo Testamento.
Combinava, pois, esses dois elementos, e assim era um poderoso pregador da
verdade espiritual de Deus. Quando Apolo chegou a Éfeso, ele não tinha
conhecimento algum sobre a experiência do dia de Pentecoste, e nem havia ainda
participado dela; e também, ainda não conhecia o batismo cristão. Seu
discipulado era apenas o de um seguidor de João Batista, tendo crido na
mensagem pregada por este, de que Jesus era o Messias judaico.
Essa
falta de melhor instrução, da parte de Apolo, foi eliminada pelo esforço
paciente de Priscila e Aquila (ver Atos 18:26). De Éfeso, Apolo se dirigiu para
Corinto. Evidentemente era homem poderoso na apologética cristã, e deve ter
obtido retumbante sucesso, tornando-se famoso como um dos principais líderes da
igreja cristã.
Cefas
ou Simão, também chamado Pedro, era filho de Jonas (ver Mat. 16:17), pescador
por profissão, foi discípulo de Jesus. As tradições antigas dizem que Pedro
morreu crucificado em Roma, de cabeça para baixo.
E por fim, Cristo, esta palavra é, na verdade, um título, que no texto faz referência a Jesus filho de Deus, daí o seu uso tanto em ordem direta "Jesus Cristo" como em ordem inversa "Cristo Jesus", significando neste último O Ungido, Jesus.
Em
um olhar superficial parece que os últimos partidários não estavam errados em
serem defensores de Cristo, mas nem tudo que leva o nome de Cristo é verdadeiramente
correto.
O problema desta facção estava na forma com que exaltam o Ungido.
O
partido de Cristo era formado por crentes que negavam a autoridade daqueles
três outros líderes citados, e então, com um ar de superioridade espiritual, se
declararam seguidores verdadeiros de Cristo, negando que os outros pudessem
ser.
Em
contraste com os demais membros da igreja, cujos heróis eram apenas grandes
vultos do cristianismo. Este quarto grupo reivindicava serem elevados acima do
nível comum dos crentes, se mostravam hostis para com toda a autoridade humana,
sendo os mais orgulhosos de todos os grupos facciosos mencionados no texto.
Aqueles
que eram de Cristo desprezavam qualquer ligação com os outros, formando assim
um partido isolado.
A
facção que defendia Paulo era composta de gentios que literalmente colocava o
apóstolo acima de tudo e de todos, existia um enorme zelo em favor de Paulo,
obscureceram assim o nome de Cristo.
As
facções de Cefas e Apolo eram dois partidos formados por membros judeus altivos
da igreja de Corinto e um deles com fortes elementos e inclinações
intelectuais.
Apolo
por ser um eloqüentíssimo judeu alexandrino, sendo o líder cristão mais
filosófico que se conhecia, os irmãos com tendências para a eloquência e a
filosofia passaram a apoiá-lo.
Cefas ou Simão Pedro havia visitado Corinto. E alguns dos crentes de tendências mais legalistas, ou, pelo menos, alguns membros judeus daquela igreja, sentiram uma finidade natural por ele, colaborando com um enorme exclusivismo legalista.
As
facções deixam subentendido que algum outro nome merecia honra, em algum
sentido, tal como Cristo.
Ao
longo desta perícope é possível observar que, as facções davam aos líderes
particulares uma posição que somente Cristo poderia ocupar (I Cor. 1:13-17). Muitos
daquele lugar consideravam os apóstolos como mestres de filosofia, e não como
pregadores da Palavra da cruz (I Cor. 1:18- 2:5). A verdadeira sabedoria concedida
pelo Espírito de Deus não era aquela que aquele espírito faccioso pensava (I
Cor. 2:6- 3:4). Aquelas divisões faziam dos apóstolos rivais, e não
cooperadores sob as ordens de Cristo (I Cor. 3:5-23).
E
por fim:
“Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel”. - 1coríntios 4:1-2
Neste
trecho da carta à igreja aos Coríntios o apóstolo dos gentios conclui demonstrando
a verdade, nenhum mero nome humano pode ser guindado à posição de herói
exclusivo, porquanto somente Cristo (sem nenhum legalismo) é de estatura
suficiente para encabeçar os crentes, somente ele é suficiente para que uma fé
religiosa receba o seu nome. Ao seguir exclusivamente heróis humanos e
ignorando a mensagem central deixada por Cristo é um absurdo tão grande como
substituir o Salvador, enviado pelo Pai, que é Cristo Jesus, por um mero
salvador humano.
Um
verdadeiro despenseiro dos mistérios de Deus não tem mensagem própria, e seu
valor depende de quão fielmente ele se desincumbe dê sua função, que lhe foi
confiada.
Os
ministros de Deus são servos, cuja única responsabilidade é serem fiéis, não
podendo trabalhar visando aos seus próprios interesses, mas deve servir
fielmente aos interesses do seu Senhor.
Higor Crisostomo
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