Ao
observamos as eclesiologias e as liturgias em nossas igrejas, vemos uma
total descaracterização. Aquilo que deveria ser direcionado para Deus e
Sua glória exclusivamente foi totalmente travestido de um humanismo
exacerbado. Deus que deveria ser o foco central do culto foi alijado do
processo e virou nota de rodapé colocado na parte inferior das
atividades. Deus virou pretexto para que o homem continue no centro.
Deus é citado como apoio às práticas mundanas e capitalistas que
permeiam a igreja. Há uma expressão que vem dos tempos da Reforma que
diz: SOLI DEO GLÓRIA. Quer dizer: Glória somente a Deus.
O insuperável Johann Sebastian Bach que revolucionou a música terminava
todos os manuscritos de suas composições com as letras S.D.G. (Soli Deo
Glória).
Isso
nos mostra que tudo em nossas vidas deveria apontar para Deus. O culto é
para Deus. Somente Deus merece receber a glória e isso implica que Ele
deve ser o centro do culto. A Reforma resgatou essa máxima esquecida durante séculos.
O culto não pode ser voltado para o homem. Não pode procurar satisfazer
os desejos do homem e nem girar em torno dele. Mas vemos que o homem
assumiu o lugar de Deus e passou a ser reverenciado. As pregações não
apontam mais para o pecado que leva o homem a perdição e nem mais
mostram a graça salvadora de Deus, mas sinalizam maneiras dos homens
superarem suas crises.
Basta
ver os títulos dos sermões pregados. Em uma rápida passagem de olhos
pela internet encontrei alguns títulos interessantes, vejamos: “Vencendo
as Batalhas; Tempo de Conquistas; Vivendo Triunfantemente, etc."
Vejamos alguns títulos do Príncipe dos Pregadores Charles Haddon
Spurgeon: “A Humilhante mas Gloriosa Dependência de Deus; O Terrível
Porém da Justiça Própria, etc." Daí da para perceber a grande diferença.
As
músicas não exaltam mais a Deus, mas sim se centram no homem e suas
crises. Se observarmos as músicas evangélicas atuais veremos essa triste
realidade. Músicas que mostram o que Deus fará pelo homem e não a
expressão de uma alma agradecida a Deus. Existe até música de louvor
dedicado a ser humano! Sei que existe este tipo de música religiosa
entre os mórmons, mas para cristão... A quantidade de vezes que o
pronome eu aparece nessas músicas é algo estarrecedor. Se compararmos
com os grandes hinos da hinologia cristã veremos o contraste gritante.
O primeiro hino do Cantor Cristão diz: “A ti, ó Deus, fiel e bom Senhor. Eterno Pai, supremo Benfeitor, Nós, os teus servos, vimos dar louvor, Aleluia! Aleluia! O que dizer das catarses praticadas em nossos cultos?
Gritos de vitória, brados de louvor, tudo isso produz alívio e não
libertação. Qualquer psicólogo recém formado pode confirmar isso. Para
tristeza nossa essas práticas espúrias entraram para ficar. O que dizer
dos moveres de Deus nos cultos onde o frenesi se instala e o ego grupal
prevalece, as pessoas rodopiam, gritam, caem ao chão, riem sem parar,
imitam animais com seus sons e mais um cem números de outras bizarrices?
Muitos
adentram as igrejas para buscar suas bençãos e encontram sacerdotes
corroídos que oportunamente lhes oferecem as bênçãos, buscando
satisfazer os egos eternamente insatisfeitos em troca de alguma coisa
material. Muitos esqueceram que as reuniões solenes dos santos são para
louvor e glória de Deus. Essas reuniões deveriam ter Deus e Sua glória
em primeiro lugar. Nossos cânticos deveriam exaltar o nome que é sobre
todo nome. Nossas orações deveriam expressar nossa gratidão Àquele que
nos amou e morreu por nós. Hoje cantamos músicas desprovidas de
adoração. Muitas dessas coisas cantadas em nossas igrejas expressam um
antropocentrismo aviltante. Muitos acham que louvor é somente cantar
qualquer coisa. Louvor também é expressão de nossa admiração em relação a
Deus. Por estarmos admirados com a grandeza de Deus e com Seu amor
expressamos isso adorando, louvando Sua pessoa.
Mas
o culto mudou. Temos culto do Eliser. Vejam só que nome de culto!
Acredito que seja um culto específico para arranjar
namorado/companheiro. Quando é que um culto se presta a isso?
Paralelamente temos o culto da Terapia do Amor onde os descasados estão à
cata de um companheiro/a. Nada mais mundano que isso!
O
que dizer dos cultos para empresários bem sucedidos e outros falidos
juntamente com os desempregados à procura de empregos? Dêem outro nome a
isso, menos culto. Isso causa náuseas em qualquer bom cidadão.
Ao entrarmos em nossas igrejas deveríamos lembrar a máxima de João Batista: “Importa que Ele cresça e que eu diminua”. Deveríamos lembrar o que o Senhor disse a Moisés: “Descalce os pés porque a terra é santa”.
Não
gostaria de falar, mas me sinto constrangido a isso. E os famigerados
cultos de libertação? O próprio nome do culto é uma contradição.
Libertação para quem já foi liberto? Libertar o cristão se Cristo já
realizou tudo no Calvário? O que tais pessoas entendem sobre as palavras
de Cristo na cruz: Tudo está consumado?
Culto deveria ser expressão de nossa liberdade conquistada na cruz e nunca para buscarmos libertação. Culto deveria ser nossa celebração pela vitória alcançada na cruz e isso pela misteriosa, grandiosa e maravilhosa graça de Deus.
Precisamos de uma vez por todas fazer coro com os reformadores: SOLI DEO GLORIA.
Soli Deo Glória
Pr. Luiz Fernando R. de Souza
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